quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Dia 10. Um livro que me recorde de casa

O meu pé de Laranja lima. Lembro as tardes perdidas em que enroscada no sofá era transportada para um mundo mágico.



"— Mas que lindo pezinho de Laranja Lima! Veja que não tem nem um espinho.
Ele tem tanta personalidade que a gente de longe já sabe que é Laranja Lima. Se eu fosse do seu tamanho, não queria outra coisa.
— Mas eu queria um pé de árvore grandão.
— Pense bem, Zezé. Ele é novinho ainda. Vai ficar um baita pé de laranja. Assim ele vai crescer junto com você. Vocês dois vão se entender como se fossem dois irmãos.
Você viu o galho? É verdade que o único que tem, mas parece até um cavalinho feito pra você montar.
Estava me sentindo o maior desgraçado da vida. (...)... Sempre eu tinha que ser o último.
Quando crescesse iam ver só. Ia comprar uma selva amazónica e todas as árvores que tocavam no céu, seriam minhas.(...)
Emburrei. Sentei no chão e encostei a minha zanga no pé de Laranja Lima. Glória se afastou sorrindo.
— Essa zanga não dura, Zezé. Você vai acabar descobrindo que eu tinha razão.
Cavouquei o chão com um pauzinho e começava a parar de fungar. Uma voz falou vindo de não sei onde, perto do meu coração.
— Eu acho que sua irmã tem toda a razão.
— Sempre todo mundo tem toda a razão. Eu é que não tenho nunca.
— Não é verdade. Se você me olhasse bem, você acabava descobrindo.
Eu levantei assustado e olhei a arvorezinha. Era estranho porque sempre eu conversava com tudo, mas pensava que era o meu passarinho de dentro que se encarregava de arranjar fala.
— Mas você fala mesmo?
— Não está me ouvindo?
E deu uma risada baixinha. Quase saí aos berros pelo quintal. Mas a curiosidade me prendia ali.
— Por onde você fala?
— Árvore fala por todo canto. Pelas folhas, pelos galhos, pelas raízes. Quer ver? Encoste seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração bater. Fiquei meio indeciso, mas vendo o seu tamanho, perdi o medo. Encostei o ouvido e uma coisa longe fazia tique... tique..."

8 comentários:

  1. O primeiro livro que me fez chorar.
    Mesmo agora acho que tenho qualquer coisa neste olho... :)

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    1. é lindo não é? Então e que outros livros te deixaram com um problema no olho? :)

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    2. Não foram muitos, na verdade. Este foi, talvez, o mais marcante. Chorei com um livro de um autor alemão intitulado Assalto. Chorei com o Conde de Monte Cristo (uma obra soberba). Talvez tenha existido algum mais que me deixou os olhos aguados... mas estes três abriram-me a torneira toda! :) E tu? Choras muito? :D

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  2. O conde de Monte Cristo é simplesmente brilhante.
    Esse do assalto não conheço, não andará por aí o autor para eu ver se consigo ler, fiquei curiosa.
    Ai eu, sou pior que uma torneira, sou o lago todo. Basta que me falem ao coração que pareço uma Maria Madalena.

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    1. Tenho o livro na estante do escritório e agora não posso lá ir. Amanhã digo-te o autor.
      :)

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    2. Ora então cá estou de volta. O escritor é F. J. Wagner e o título original do livro é Das Ding. A edição portuguesa é de Maio de 1979, Círculo de Leitores, com o título O Assalto.
      :)

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    3. obrigada, tenho de ver se a biblioteca tem

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